terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Arte inesperada

Mas antes da primeira exposição impressionista ( 1874) no estúdio do fotógrafo Nadar, surge para o público (1863) o quadro de Edouard Manet chamado Olympia.

Um nu artístico de uma cortesã deitada numa cama coberta de um panejamento branco não é rejeitado simplesmente por ser considerado demasiado erótico, mas por representar o corpo, friamente pintado num tom creme, e, proporcionalmente, quase de importância menor, no espaço da pintura, do que o do destaque dado ao panejamento. Isso causa um choque, pois a representação do corpo pela pintura, e sua importância, é relativizada. Além de Olympia ser um nu nada voluptuoso ( como até então era hábito): o corpo não é modulado em seu volume.

A expressão de Olympia além da falta de volúpia, indica certa reflexão, fria, sobre a pose.

A cama e o panejamento branco, o corpo e, proporcionalmente, a cabeça diminuta estão algo inclinados na tela expondo-se quase que frontalmente ao observador. É essa frontalidade inclinada, é esse contato de uma tela mostrando a sua superfície que causa escândalo visual.

Até então, desde a Renascença, o corpo era representado, além de modulado em seu volume. com nuances tonais na representação da carnalidade.

Até então a abordagem das formas, dos temas, mantinha uma distância respeitosa do olhar do público para o motivo da pintura, o tema, como se, assim, se zelasse pela dignidade da representação das Belas Artes.

Olympia não. A tela é quase rente ao olhar, dada a ênfase conferida à frontalidade da superfície.

E a superfície da tela, e não o meio dessa ou o fundo em perpectiva, exercerá um forte papel, e terá uma função priomordial, na pesquisa plástica moderna.

Sobre a importância e o papel moderno conferidos à superfície da tela será interessante pensar-se em Matisse que ao simplificar o desenho das figuras dá ao espaço criado na superfície uma oportunidade quase inédita às áreas puras de cor, ao campo da cor que ganhará maior importância que as figuras, simpliificadas. E,também, claro, a importância da superfície para o movimento cubista, nas primeiras décadas do século XX, que trataremos no post chamado O selvagem Picasso.

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